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Jovem que entrou em como após trote recebe alta

Familia quer esclarecimento da UFRGS

O jovem de 18 anos que entrou em coma após ser submetido a um trote, na sexta-feira, recebeu alta do Hospital de Pronto Socorro (HPS) onde estava internado em Porto Alegre. O rapaz contou à família que teria sido obrigado a ingerir álcool de cozinha. Os pais dele acusam os servidores do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e da Brigada Militar de negligência e querem esclarecimentos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs).

O trote foi aplicado pelos colegas mais antigos no curso de Ciências da Computação. Segundo a irmã da vítima, foi negado socorro ao rapaz, que aguardou ajuda no Parque da Redenção até ser levado pelos familiares ao HPS. "Eles disseram que não iam socorrer porque ele estava bêbado", relatou.

O comando do 9º Batalhão da Brigada Militar, responsável pela região, foi procurado e informou que quando foi recebido o registro da ocorrência, as acusações contra os policiais serão verificadas.


Acessado em 09.03.2011


SETE TESES CONTRA O TROTE ESTUDANTIL

Posted: 09/03/2011 by Revista Espaço Acadêmico in colaborador(a), universidade
por PAULO DENISAR FRAGA

1. Embora com possíveis expressões anteriores, é patente que o trote atingiu a sua época de ouro na Idade Média, durante a formação das universidades e da vida nas emergentes cidades européias. De pronto, ele já representou uma prática de discriminação e negação do outro, na qual os estudantes provenientes dos centros urbanos atribuíam, aos que chegavam do meio rural, uma suposta bestialidade originária da qual precisavam ser “curados” por meio do “batismo de fogo” dos trotes. Até hoje apresentado como meio de integração dos estudantes, desde a sua origem a natureza dos trotes não integra. Ela segrega.

2. Todas as sociedades, desde as comunidades nativas, possuem ritos de iniciação que servem para introduzir e preservar, nos novatos, os valores do meio social em que estão ingressando. Por isso a questão não está em haver recepção e introdução dos estudantes, mas em saber de qual recepção se trata nos trotes tradicionais. Como tais, eles não servem para reproduzir os valores humanistas que caracterizam a tradição histórica das universidades. Ao contrário, eles são a sua negação escrachada, manifesta em atos de irracionalismo bufão e tosco. Por isso, em relação aos meios culturais e científicos, os trotes são um rito de passagem às avessas.

3. Desde Sócrates, as máximas “só sei que nada sei” e “conhece-te a ti mesmo” ensinam que a sabedoria está no reconhecimento dos limites do próprio saber, e que a situação do “saber menos” ou do “não saber” deve ser tratada positivamente, no sentido de que o conhecimento é um processo sempre contínuo e inconcluso. Contudo, o trote menospreza os novatos justamente pela suposição de seu saber ser menor enquanto novatos. No trote o limite do saber não é base para a abertura do processo de formação, mas para o deboche e a execração. Mandonistas e infensos ao senso crítico, os trotes são a negação da essência da relação pedagógica.

4. A alegada aceitação do trote por muitos estudantes não escapa ao enigma da servidão voluntária, que pode ser destrinchado pela dialética hegeliana do senhor e do escravo, na qual este internaliza os valores do senhor e passa a pensar que o que é ideal para o senhor também é ideal para ele, escravo. E quando percebe que o senhor o oprime, teme lutar pela liberdade porque imagina se expor a retaliações do senhor. Essa é uma das razões pelas quais dezenas de alunos declinam de dizer não para quatro ou cinco que lhes aplicam o trote. Esse medo prova que o trote se sustenta na ameaça e na perspectiva da violência.

5. A ideia que considera o trote apenas como uma brincadeira que, como tal, não contém maior problema, ignora que o brincar está ligado ao processo de humanização, enquanto o trote não passa de um evento de barbarização das relações humanas. Uma criança protesta quando dela é apartado um brinquedo, revelando os valores simbólicos do homem. Mas no trote o homem deixa de ser sujeito para ser o próprio objeto. E seu único valor é o de escárnio. Donde não admira que a nobreza do “homo ludens” seja rebaixada à miséria de “animais de rebanho”. O trote perverte o sentido da alegria em diversão por subjugar o outro.

6. Histórica e socialmente, os trotes se assentam na divisão hierárquica entre trabalho intelectual e manual e numa visão egoísta da educação formal como meio privado de ascensão social. As aberrações desfiladas pelas ruas espelham indiretamente a perspectiva elitista de superioridade dos futuros “doutos” frente ao cidadão que não teve a mesma oportunidade. E a sobrevalorização fragmentária de cursos nesses rituais solapa a concepção universal e interdisciplinar da universidade. Sua finalidade é entrevista pela viseira de um particularismo corrosivo e antissocial. Numa palavra, os trotes são a expressão e o reforço da estratificação social.

7. Nas recepções alternativas, não só o termo “bicho”, mas também o termo “trote” precisa ser superado. “Bicho” porque denota a mesma necessidade psicológica já conhecida na justificação das investidas militares, que necessita primeiro desumanizar o outro para depois submetê-lo à violência e até à destruição. E “biXo”, com “X”, só assinala aquele que está marcado. Já “trote” por se achar impregnado de um sentido intrinsecamente negativo, marcado pela ideia de enganar ou manietar alguém. Nos seus longos séculos pelos campi, os trotes não são só violência física, mas também simbólica e, talvez, tenham sido a primeira forma de bullying na educação.

* PAULO DENISAR FRAGA é é filósofo e professor do Instituto de Ciências Humanas e Letras da Universidade Federal de Alfenas (MG). Autor de A violência no escárnio do trote tradicional. Publicado em Uol Educação/Vestibular. Disponível em: http://vestibular.uol.com.br/ultimas-noticias/2011/02/18/sete-teses-contra-o-trote-estudantil.jhtm


 

Prejuízo em São Lourenço pode superar R$ 400 milhões

Centenas de moradores permanecem isolados e as aulas nas escolas só devem ser retomadas no dia 21


Estimativa inicial da prefeitura de São Lourenço do Sul, na região Sul do Estado, aponta que o prejuízo total no município pode superar o Produto Interno Bruto (PIB) local anual, que é de R$ 400 milhões. De acordo com o prefeito José Sidney Nunes de Almeida, o valor exato será divulgado nos próximos dias. Ele explicou que o cálculo leva em conta as perdas da população e do poder público com a enxurrada de quarta-feira, que elevou o nível dos rios e cobriu casas e plantações.

Almeida calcula em aproximadamente em 1 mil o número de automóveis que ficaram cobertos pela água. O total de casas danificadas ainda é incerto, mas cerca de 15 mil pessoas foram afetadas pela chuva e 60% da cidade ficou debaixo d'água.

Escolas

Das 11 vans que levam alunos para as redes estadual e municipal de educação, dez foram danificadas pelas águas e precisam ser recuperadas para que os alunos possam ser conduzidos a seus colégios. As aulas estão suspensas e só devem ser retomadas no dia 21, estima o prefeito.

Isolamento

De 28 a 31 pontes foram danificadas pelo excesso de água nos rios da região, sendo que 20 delas precisam ser derrubadas e reconstruídas. Nas demais, os danos foram em cabeceiras, o que não afeta a estrutura física das passagens. O problema deixa isoladas aproximadamente 200 pessoas em quatro comunidades, segundo Almeida.

Ele disse que todos foram abastecidos com alimentos e água e que se houver necessidade de remover algum doente, um helicóptero será acionado. Segundo o prefeito, o hospital do município está lotado, mas dando conta da demanda. Abastecimentos de água e luz estão praticamente restabelecidos.

Limpeza

Com o comprometimento das máquinas da prefeitura, inutilizadas pelas águas, tratores de cidades vizinhas estão sendo utilizados para a limpeza da cidade. A estimativa do prefeito é que a remoção de entulhos dure mais uma semana. Ele contou que há bastante lama e lixo espalhados.

Eduardo Seidl / Palácio Piratini